Minha mãe querida...
Minha mãe se chama Maria
Aparecida Rebelo Torres. Sempre achei o nome dela garboso. Depois, soube que
sofreu alteração e que havia ainda de Santa Ângela. Coisa linda, hein. Ela é
médica, mas o que chama atenção na mamãe não é só a formação superior, o nível
intelectual. O que a faz diferente é o pulso firme para lidar com tudo. Até
hoje, ela é quem controla tudo em nossa família. Apesar de ser a mais nova.
Minha tia Amélia Rebelo é 14 anos mais velha que ela (outra mãe linda que Deus
nos deu). Mainha demonstrou muita força na vida e indiretamente nunca admitiu
que eu e meus irmãos baixássemos a cabeça diante dos obstáculos. Criou os três
filhos sozinha. Digo isso, porque eu tinha sete anos, quando eu e meus irmãos
Jairo e Igor fomos com ela para Mossoró, no Rio grande do Norte. Eu tinha sete
anos, Jairo cinco e Igor três. Ela havia se divorciado do papai e foi refazer a
vida em Mossoró. Os primeiros dias foram difíceis. Tudo novo, novo clima (mais
quente), novos amigos a conquistar, nova casa(deixamos nosso apartamento com
piscina em Maceió). De cara, fui acidentada. O carro dela havia passado por
cima de mim, enquanto brincava na garagem da nova casa. Outro baque para minha
mãe, uma heroína. Mãe, sozinha, com três filhos, sem um só parente por perto.
Hoje, tenho 34 anos. Sou
jornalista. E meus outros irmãos também são formados. Jairo é formado em
administração de empresas na UFPB e Igor em Fisioterapia, na Universidade
Potiguar. Todos têm especialização e Igor é concursado pelo Estado de São
Paulo. E ainda almejamos continuar estudando, seguindo a vida acadêmica. Em
todos os nossos passos, está a mamãe que nunca nos deixou, nem mesmo na vida
adulta.
Ela gosta das coisas muito
certinhas. Tentamos não contrariá-la tanto, mas nem sempre honramos com as
exigências dela. O fato é que aprendemos muito com ela, inclusive a valorizar a
cultura. Empenharmo-nos por uma visão mais ampla de mundo.
Existem fatos inesquecíveis. São
tantos. Quando ela teve que me deixar com meu filho José nos braços, recém-nascido.
Ela teve que voltar para São Paulo. Foram dois meses de dedicação a meu filho
querido e depois, a vida teve que nos separar. Sim, mas espiritualmente, nunca
estivemos distante.
Também sofremos muito, quando
parte de minha cirurgia do parto se abriu.
Foi muito sangue no abdômen. Tive que seguir sozinha para a sala de
urgência e minha mãe com meu filho nos braços, gritando pelos corredores,
“NÃO PODEM SEPARÁ-LOS, ELE TEM CINCO DIAS DE NASCIDO, PRECISA SER AMAMENTADO.”
Fiquei tocada com aquela cena. E as enfermeiras afastando minha mãe da sala,
porque havia risco de contaminação para José.
Mas, conseguimos superar tudo e
chegamos à fase adulta, cientes de que nossa vitória, minha e de meus irmãos,
devemos à mamãe. Sim, também cometemos erros. Mas, lidamos com o mundo lá fora,
como não copiar péssimas escolhas? O fato é que esta heroína está presente até
hoje em nossas condutas, fazendo-nos mais fraternos e mais sensatos.
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