domingo, 24 de junho de 2012

Mainha


Minha mãe querida...

Minha mãe se chama Maria Aparecida Rebelo Torres. Sempre achei o nome dela garboso. Depois, soube que sofreu alteração e que havia ainda de Santa Ângela. Coisa linda, hein. Ela é médica, mas o que chama atenção na mamãe não é só a formação superior, o nível intelectual. O que a faz diferente é o pulso firme para lidar com tudo. Até hoje, ela é quem controla tudo em nossa família. Apesar de ser a mais nova. Minha tia Amélia Rebelo é 14 anos mais velha que ela (outra mãe linda que Deus nos deu). Mainha demonstrou muita força na vida e indiretamente nunca admitiu que eu e meus irmãos baixássemos a cabeça diante dos obstáculos. Criou os três filhos sozinha. Digo isso, porque eu tinha sete anos, quando eu e meus irmãos Jairo e Igor fomos com ela para Mossoró, no Rio grande do Norte. Eu tinha sete anos, Jairo cinco e Igor três. Ela havia se divorciado do papai e foi refazer a vida em Mossoró. Os primeiros dias foram difíceis. Tudo novo, novo clima (mais quente), novos amigos a conquistar, nova casa(deixamos nosso apartamento com piscina em Maceió). De cara, fui acidentada. O carro dela havia passado por cima de mim, enquanto brincava na garagem da nova casa. Outro baque para minha mãe, uma heroína. Mãe, sozinha, com três filhos, sem um só parente por perto.
Hoje, tenho 34 anos. Sou jornalista. E meus outros irmãos também são formados. Jairo é formado em administração de empresas na UFPB e Igor em Fisioterapia, na Universidade Potiguar. Todos têm especialização e Igor é concursado pelo Estado de São Paulo. E ainda almejamos continuar estudando, seguindo a vida acadêmica. Em todos os nossos passos, está a mamãe que nunca nos deixou, nem mesmo na vida adulta.
Ela gosta das coisas muito certinhas. Tentamos não contrariá-la tanto, mas nem sempre honramos com as exigências dela. O fato é que aprendemos muito com ela, inclusive a valorizar a cultura. Empenharmo-nos por uma visão mais ampla de mundo.
Existem fatos inesquecíveis. São tantos. Quando ela teve que me deixar com meu filho José nos braços, recém-nascido. Ela teve que voltar para São Paulo. Foram dois meses de dedicação a meu filho querido e depois, a vida teve que nos separar. Sim, mas espiritualmente, nunca estivemos distante.
Também sofremos muito, quando parte de minha cirurgia do parto se abriu.  Foi muito sangue no abdômen. Tive que seguir sozinha para a sala de urgência e minha mãe com meu filho nos braços, gritando pelos corredores, “NÃO PODEM SEPARÁ-LOS, ELE TEM CINCO DIAS DE NASCIDO, PRECISA SER AMAMENTADO.” Fiquei tocada com aquela cena. E as enfermeiras afastando minha mãe da sala, porque havia risco de contaminação para José.
Mas, conseguimos superar tudo e chegamos à fase adulta, cientes de que nossa vitória, minha e de meus irmãos, devemos à mamãe. Sim, também cometemos erros. Mas, lidamos com o mundo lá fora, como não copiar péssimas escolhas? O fato é que esta heroína está presente até hoje em nossas condutas, fazendo-nos mais fraternos e mais sensatos.
Na foto: Antônio, marido de mamãe, mamãe, eu e José e meu irmão Igor
Queria um dia chegar a ter um pouco da garra de minha mãe amada. Maria Aparecida Rebelo Torres, uma mulher pra nascer de novo.

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