Tributo ao prisioneiro
Anita Nin
Desconfie do homem que
chora e se faz de vítima. Essa não é uma visão machista não. Aprendi depois de
uma grande rasteira da vida afetiva, não faz tanto tempo assim ,e fiz disso uma verdade
para a minha vida profissional e entendimento de mundo, incluindo o da política.
Esse papel é o que a Psicologia considera Síndrome de Vítima. É como se o
sujeito adotasse uma máscara e depositasse a responsabilidade dos problemas no
outro. É também um papel cênico muito usado entre os que fazem política neste
país para justificar a roubalheira levados a praticar pelas circunstâncias do
meio e para seguir os hábitos rotineiros de Brasília e dos demais estados,
municípios e qualquer birosca do país.
E o que foi aquele
gesto de resistência de José Genoino ao se apresentar à Polícia Federal, em São
Paulo? Espere aí, então, quem foi que apagou a luz? Considerar-se preso
político foi demais. E aqueles bajuladores de plantão que defendem com
cartazes, palavras de ordem e um descaramento na cara lambida que o ex-ministro
da Casa Civil José Dirceu e o deputado Genoino são inocentes? Quem eram aquelas
criaturas mesmo? Além de parentes e amigos, talvez o padeiro da esquina, a
faxineira, o personal trainer... Alguém, urgente, chama o ladrão, porque a
polícia não tá na moda não! O repórter Tonico Ferreira sofreu com a entrada ao
vivo no Jornal Nacional. E mesmo com a chuva de cartazes de que os presos eram
heróis, o nobre colega conseguiu dar o recado. A imprensa mais uma vez
hostilizada. Papéis invertidos, não acha amigo leitor? Depois, a culpada por
tudo é a imprensa... Não me refiro aos jornalistas ‘toqueiros’, aqueles que são
tão ladrões quanto os políticos, porque enricam sugando dinheiro público,
chantageando os políticos. Destino minha defesa aos profissionais sérios da
imprensa que existem e são muitos. São pais e mães também indignados com as tramoias
de nossos representantes. Que estão no batente sem poder emitir opinião,
ouvindo os dois lados, cumprindo com o que manda o regimento democrático de se
noticiar, lidando com a verdade.
Então, vamos refrescar
a memória dos pobres acometidos pela amnésia. Doze ‘imaculados’ são acusados de
participação no Mensalão, nome do esquema de compra de votos de
parlamentares no Congresso Nacional. E no feriado da Proclamação da República,
dia 15 de novembro de 2013, mais conhecido como última sexta-feira, o presidente do Supremo Tribunal Federal,
ministro Joaquim Barbosa, decretou,
no fim da tarde, a prisão das criaturas condenadas no processo do mensalão.
Gente, o ato é tão importante
quanto a própria data, 15 de novembro. Neste dia de 1889, foi-se a monarquia
constitucional parlamentarista e veio a república, rasgando o véu da soberania
de Dom Pedro II. Sem querer tomar partido pela monarquia ou república, essa não
é a questão agora. Cabalisticamente, o número 15 exerce uma força misteriosa,
magnetismo. E não houve jeito, depois do pulso firme do ministro Joaquim, todas
as atenções estão voltadas para essa data. E os demais dias seguem como
coadjuvantes no processo deflagrado, marcado em nosso calendário quase como um
dia de independência, de resposta. Nessa onda de numerologia,
deve ter relação com o ano, são tantas as manifestações na Paulista...
Encaminhados ao
Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, os condenados terão três
refeições por dia e terão de tomar banho frio. Ei, turma do fundão, quem aí não
levantou às 4h da manhã para chegar na hora certa ao trabalho e teve que tomar
banho frio, porque a resistência do bolso do assalariado faz tempo que está
queimada? Banho quente... Eu nasci em Marte ou o que?
Não sabemos como isso
vai terminar. Eles vão achar brechas para conquistar um novo lugar ao Sol e de
frente pra o mar. Mas, foi feito. Alguém teve coragem. Só não me conformo com
essa contracultura às avessas, de uma gente tão moderna, cheia de ideais, de
topete e raça para lutar pelo torto. Francamente, alguma coisa está fora da
Ordem. Colocaram algo na bebida deles.
Ah, ainda sobre os
nossos queridíssimos cordeiros, os que estavam ‘na luta por justiça’, pedindo pela
liberdade deles, podem ser surpreendidos. Esses que acreditam serem vítimas,
quando se fortalecem e tornam a dominar, apagam da caderneta o nome de quem os
defendeu. É assim na vida a dois e a 1615 partidários do mundo mágico de Oz.
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