sábado, 21 de abril de 2012

 E este morcego?

Cenas de um pesadelo da noite passada...

 

Solo


Augusto dos Anjos


O MORCEGO
Meia-noite. Ao meu quarto me recolho.
Meu Deus! E este morcego! E, agora, vede:
Na bruta ardência orgânica da sede,
Morde-me a goela ígneo e escaldante molho.

"Vou mandar levantar outra parede..."
- Digo. Ergo-me a tremer.  Fecho o ferrolho
E olho o teto. E vejo-o ainda, igual a um olho,
Circularmente sobre a minha rede!

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!


 

 

Um comentário:

  1. Ontem, em meu sonho, meio pesadelo, fui guiada por Orfeu. Que me fez sorrir e brincar de liberdade, de um pouco de risco na noite soturna de nossas tabernas. Ontem, o morcego não me atormentou tanto assim...

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